sexta-feira, 27 de abril de 2012

A-c-tividade


- Pedro, mais uma vez, você não pode escrever assim. Você não está no seu país. Não existe actividade, oras. Vamos, acerta isso: a-t-i-v-i-d-a-d-e.

- Mas é difícil deslembrar o que se sabe, professor.

Pior que os entraves da grafia eram a adaptação a um novo sistema de educação, a vivência em outra cultura e, por Deus, aquele inverno do Rio Grande do Sul.

Pedro Pamante, jovem guineense de 25 anos, veio ao Brasil em 2006 perseguir a vontade de ter uma formação científica sólida. Deixou Guiné-Bissau, num ponto eqüidistante entre a Linha do Equador e o Trópico de Câncer, para desembarcar numa Santa Maria quase abaixo de zero.

Aprendeu a escrever no estilo brasileiro, tal como diz, até se reencontrou na academia cursando arquitetura. Fez amigos e teve tempo para visitar a família.

Diz hoje já ter superado todos os choques. Menos o térmico. Não houve conciliação com o inverno santa-mariense.

Deitado na cama, sedado pela baixa temperatura, Pedro assistia de longe a queda de rendimento escolar durante o meio do ano. Era durante o verão que o rapaz se destacava nos estudos, para, no inverno, prostrar-se à espera do sol.

De tanto apanhar do clima, Pedro decidiu continuar a arquitetura mais ao norte do país. Chegou na capital e pensou: “Chega de frio!”. Mas e o famoso frio-humano de Brasília, Pedro?


postado aqui e em feitoderecortes.blogspot.com/

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